Estimativas VS Apetite

Sobre conceitos básicos do Shape Up e sermos ruins com estimativas

Uma das mudanças de mentalidade mais interessantes propostas pelo Shape Up é a de se trabalhar mais com a ideia de apetite do que com estimativas.

De maneira geral, nós, seres humanos somos ruins com estimativas. Ainda mais quando se trata de de desenvolvimento de software. Quando estamos construindo produtos, o desconhecido é uma variável grande demais para ser ignorada. É mais comum do que raro um time de desenvolvimento descobrir novas tarefas enquanto realiza o trabalho.

Esse fato acabar entrando no caminho de toda as estimativas meticulosamente pensadas pelo time de produto ou engenharia enquanto se planeja a próxima sprint ou se atrela pontos a cards e tasks.

A consequência natural disso são sprints atrasadas, times que não conseguem explicar o motivo do trabalho ainda não estar pronto e founders ou stakeholders que não entendem como o time cresceu e as coisas demoram mais do que antes para serem lançadas.

Por isso evitamos trabalhar com estimativas. Ao invés disso, preferimos trabalhar com o conceito de apetite.

Trabalhando com estimativas, você está sempre tentando responder a pergunta de quanto tempo achamos que alguma coisa irá demorar para ficar pronta. Ao trabalhar com apetite, você passa a buscar responder quanto tempo estamos dispostos a gastar com essa coisa.

Prazo fixo e escopo flexível

Pode parecer uma mudança sutil, mas traz uma nova perspectiva de como se encarar um pedaço de trabalho proposto. Ao se pensar em apetite, passamos a deixar o prazo fixo e nos desafiamos a flexibilizar o escopo. Normalmente no mundo das estimativas estamos acostumados a manter nosso escopo fixo — o que queremos fazer — e flexibilizar os prazos — estimativas que são atualizadas conforme o desenrolar do projeto.

Imagine que em um projeto de desenvolvimento de software, seu prazo é seu ”orçamento” (quantidade de recursos investido no projeto). Quando mantemos nosso prazo fixo, estamos fixando nosso orçamento disponível para aquela iniciativa. Isso nos força a pensar em maneiras de flexibilizar o nosso escopo para que se adeque a esse orçamento.

Uma analogia que gosto muito é comparar um projeto a uma saída para jantar. Nessa analogia, o escopo seria o prato de comida que iríamos jantar. E o prazo seria o orçamento disponível, o quanto poderíamos gastar. No mundo das estimativas — escopos fixos e prazos flexíveis — nós primeiro definiríamos qual seria o prato, por exemplo lagosta. O problema é que com nosso escopo fixo, nós pagaríamos o valor que essa lagosta custasse, e provavelmente só iríamos descobrir isso já no restaurante. No mundo do apetite — prazo fixo e escopo flexível — nós primeiro definimos o quanto queremos gastar, por exemplo R$30. Depois nós pensamos o que poderíamos jantar dentro desse orçamento. Uma pizza pode não parecer um substituto para lagosta, mas pode matar a fome, ser facilmente dividida e ficar pronta bem rápido, resolvendo a dor do seu usuário dentro do seu orçamento.

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