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Delete Week
Sobre a facilidade em adicionar e dificuldade em subtrair

No fim do ano passado li a mensagem que o Brian Armstrong, fundador do Coinbase, enviou para o seu time sobre a Delete Week, que acontece essa semana.
A Delete Week é um convite a todos os times do Coinbase fazerem o exercício de buscar ativamente por deletar coisas durante uma semana. O que seriam essas coisas? Qualquer coisa! Desde partes do código que não servem mais pra nada, licenças de software, canais do Slack ou até features não utilizadas.
Pra tornar a experiência mais dinâmica e transparente, os times são encorajados a postar suas “deletadas” em um canal do Slack. No final, serão escolhidas as melhores dentre várias categorias e a “Melhor Deleção Geral”.
Brian ainda vai além e encoraja quem estiver na dúvida sobre algo valer a pena ou não ser deletado a seguir em frente com a remoção. Uma vez que não tem problema voltar atrás caso a empresa volte a precisar do que foi deletado. E ainda diz que se não voltarem atrás com pelo menos 10% do que foi deletado é porque deletaram pouco.
Tendência para a complexidade
A motivação para a “Delete Week” é tentar combater a tendência natural para a complexidade que se vê em todas as empresas e produtos. Todos os negócios começam simples e vão se tornando complexos com o tempo. Isso acontece por inúmeros motivos, mas principalmente pelo fato de que é muito mais fácil adicionar que subtrair.
Quem motivou o Coinbase foi o Shopify, que em 2023 promoveu algo nessa mesma linha com seu “calendar purge”. Kaz Nejatian, COO do Shopify, fez manchetes ano passado ao deletar mais de 12,000 eventos recorrentes nos calendários do seu time. Esse simples — porém corajoso — ato liberou incríveis 322,000 horas coletivas (wow!) da empresa.
Luta pela simplicidade
Um outro exemplo na luta contra a complexidade vem de um dos meus líderes de produto favorito: Brian Chesky, do Airbnb. Em um podcast, Chesky admitiu já estar incomodado há meses com a velocidade com que seu produto se movia e como tudo parecia cada vez mais complexo — olha aí o que estamos falando. Ele comenta ter literalmente sonhado que se afastava da empresa e ao voltar encontrar num cenário desolador. Até que a pandemia aconteceu e seu negócio ficou em risco da noite pra dia.
Em meio a crise inesperada, o CEO partiu em uma cruzada contra a complexidade para tentar salvar seu negócio e conseguir se adaptar. Chesky conta que obrigou todos os líderes de produto a documentarem tudo em que estavam trabalhando no momento. Depois disso, pediu para que escolhessem só 20% do que foi documentado para seguir adiante. Ou seja, 80% de todas as iniciativas seriam descartadas.
O resultado? Os times ficaram mais focados: ao invés de um time fazendo 3 coisas passaram a ter 3 times fazendo uma coisa. A distância entre a liderança e os times foram reduzidas com menos camadas de gestão. O roadmap de produto foi consolidado em um único para toda a companhia. E, finalmente, a empresa voltou a se comportar como uma startup, que era a solução para o pesadelo de Chesky.
É igual unha
Aguardo ansioso por aqui os resultados da primeira Delete Week do Coinbase, e na torcida para que se torne um hábito. Aqui na 37signals acreditamos que combater a complexidade é um exercício diário. Acreditamos que a melhor maneira de fazer mais é fazendo menos. E sim, também acreditamos você sempre pode fazer menos.
Nunca me esqueço de um ótimo ditado que ouvi sobre custos: “Custo é igual unha, tem que cortar sempre”. O mesmo vale para a complexidade.
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