Barão de Mauá, o Elon Musk brasileiro

Ele foi o maior empreendedor brasileiro de todos os tempos e você nem conhece.

Elon Musk é o homem mais rico do mundo.

Mas ele não é só mais rico do que Jeff Bezos, Bill Gates e Mark Zuckerberg.

Ele é rico de um jeito diferente.

Jeff construiu seu império através da Amazon, a gigante do e-commerce.
Bill construiu seu império através da Microsoft, a gigante de software.
Mark construiu seu império através do Facebook, a gigantesca rede social.

Existe um GRANDE mérito em dominar um mercado específico como esses três fizeram.

Só que o Elon Musk fez isso em múltiplos mercados:

  • Automotivo: Tesla

  • Aeroespacial: SpaceX

  • Energia: Solarcity

  • Transporte: Hyperloop

  • Infraestrutura: The Boring Company

  • Inteligencia artificial: OpenAI (foi um dos founders)

  • Medicina: Neuralink

  • Pagamento: Paypal

Se sobressair em 1 área já é difícil. Em várias é quase impossível.

Só consigo pensar numa pessoa que conseguiu sucesso parecido com o de Elon Musk. E ele é brasileiro.

O mais bizarro disso tudo é que quase nenhum brasileiro conhece ele.

Isso mostra o valor que damos aos notáveis de nosso país.

E antes que você diga que isso é coisa do passado e hoje damos o valor que os notáveis merecem, você sabe que um dos fundadores do Instagram é brasileiro (Mike Krieger)?

Pois é. Até hoje a gente caga na cabeça dos notáveis.

Mas chega de conversa e vamos falar da pessoa que eu reservei um tempo para escrever sobre logo após ler sua biografia.

Estamos falando de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.

Apenas um comentário: meu objetivo com esse texto não foi contar a sua história e sim ressaltar alguns pontos que eu acho fora de série.

Para ver toda a história dele, recomendo fortemente a leitura do excelente “Mauá Empresário do Império” do Jorge Caldeira.

Início de tudo

Irineu Evangelista de Sousa começou a trabalhar aos 11 anos num comércio de um escocês chamado Carruthers.

Lá, aprendeu como os ingleses e escoceses faziam negócios, o que era bem diferente do jeito brasileiro da época. Além disso, também aprendeu a falar inglês, o que seria importante mais tarde. Já que seus futuros negócios nasceriam numa época em que a Inglaterra comandava a revolução industrial.

No começo da sua carreira, Irineu abriu seu próprio comércio e prosperou. Em dado momento, decidiu vender o comércio e comprou um estaleiro em Niterói.

Fazendo um paralelo, me lembrou a história de Vanderbuilt que iniciou sua carreira como o Barão das Balsas nos EUA e decidiu vender tudo e embarcar no negócio de ferrovia que parecia mais promissor.

Voltando à nossa história, a revolução industrial estava acontecendo e aquilo parecia ser um mercado com potenciais exponenciais (tipo AI hoje em dia)

O Brasil precisaria de navios, máquinas e outros produtos de indústria e não tinha ninguém para fazer isso. Como importar era caro, Irineu viu que ali tinha uma oportunidade maior do que no comércio que ia bem.

Assim, tomou uma decisão que poucos tomariam: fechou o seu comércio que estava indo de vendo em popa para começar uma do zero, em um mercado completamente novo para ele.

Barão de Mauá, o Industrial

O estaleiro que ele comprou precisava de mão de obra especializada, mas também gente para fazer o trabalho braçal.

Como não existia essa mão de obra especializada no Brasil na época, Irineu trouxe engenheiros da Europa.

Estaleiro Ponta de Areia. Hoje é possível vê-lo ao atravessar a ponte Rio-Niterói sentido Niterói. Existe um grande letreiro escrito Estaleiro Mauá

Para o trabalho braçal, a escolha era óbvia: o Brasil vivia seu período escravocrata e qualquer um naquela situação recorreria facilmente a escravos, mas Irineu pensava diferente.

Em 1846 ele já tinha uma cabeça de “partnership”.

Ele gostava da ideia de pagar bem seus funcionários e dar-lhes participação societária para que todos os incentivos se alinhassem. Isso era muito mais produtivo do que forçar alguém a trabalhar com algo que ele não quer.

Só que essa forma de pensar trouxe uma série de inimigos para Irineu.

Quem era aquele louco que ousava ameaçar um business extremamente lucrativo como o de escravos da época?

Mauá até tentou libertar escravos e contratá-los pagando salário e sociedade, mas foi obrigado a voltar atras e empregar escravos. Ele só conseguiria emplacar essa ideia de pagar salários a ex-escravos mais tarde.

O estaleiro começou a prosperar e fez de Irineu um homem rico.

Mas ele não parou por ali.

Como ele tinha um grande apetite para risco e via o Brasil muito atrasado no setor bancário, ele teve uma ideia.

Mauá, o Banqueiro

Irineu sabia falar inglês e tinha muitos contatos na Inglaterra. Lá, viu de perto o berço da revolução industrial em Liverpool e aprendeu com eles.

A revolução industrial dava boas ideias de negócios a Irineu

Trouxe, então para o Brasil uma ideia que era comum nas terras inglesas, e completamente inovadora aqui: abrir uma empresa S.A.

Não existia nenhuma S.A. no Brasil.

Irineu queria abrir um banco e ter sócios capitalistas para que a empresa já nascesse com o tamanho necessário para dar o próximo passo: usar esse banco para financiar outras três empresas.

Então ele reuniu diversas pessoas para investirem no banco que ele estava criando. O Banco se chamaria Banco do Comércio.

A abertura do banco não foi fácil. O governo basicamente embarreirava qualquer coisa que ele tentava fazer e tinha apoio popular para fazer isso.

A mentalidade do brasileiro da época é que os avanços deveriam ser feitos pelo governo e não por empresários sedentos por lucro. (Alguma semelhança com o Brasil de hoje em dia?)

Depois de um bom tempo tentando abrir o banco, finalmente recebeu o aval.

Só que de última hora, decidiu trocar o nome de Banco do Comércio para Banco do Brasil, porque o banco que tinha esse nome tinha acabado de falir.

Sim, o Banco do Brasil de logo amarelo e azul que você conhece não nasceu estatal. Nasceu como um banco privado fundado por Irineu Evangelista de Sousa.

Sede do Banco do Brasil fundado por Irineu Evangelista de Sousa em 1851

Justiça seja feita. Um banco chamado Banco do Brasil tinha existido antes, fundado pelo governo, mas havia falido. O 2º Banco do Brasil (que é o que conhecemos hoje) foi fundado pelo Irineu e não pelo governo.

Na fundação, o Banco do Brasil já era a maior empresa do país, avaliado em 10 mil contos de réis. Para se ter uma ideia, no momento que nasceu, ele valia 5 vezes mais do que o seu único concorrente.

A estatização de seu banco

Não demorou até o governo ser tomado pelos ideais de que era inadmissível existir uma empresa privada de tal tamanho, com um empresário ganhando tanto dinheiro.

Era “óbvio” que aquele tipo de empresa deveria ser estatal e não privada.

E foi exatamente o que o governo fez. Com mudanças de lei pelos deputados federais, ficou proibido que existisse um banco S.A privado.

O pânico tomou conta dos correntistas que sacaram e não deram opção a Irineu se não vender a empresa ao governo.

A partir dai, o banco passou a ser estatal.

No comando de Irineu, a empresa tinha 3 diretores técnicos: pessoas que conheciam o business e trabalhavam de modo a melhorar a eficiência do banco a todo momento.

Já estatal, o número de diretores saltou para 20. O conhecimento de business deu lugar à indicação política. A maioria desses diretores nunca havia trabalhado com bancos antes.

O melhor programa econômico de governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem.

- Irineu Evangelista de Sousa

Insano né?

O crédito finalmente era acessível no Brasil. O banco prosperava ao mesmo tempo que ajudava a financiar a industrialização do país no setor privado (como acontecera alguns anos antes na Inglaterra).

Mas aquele crédito acessível foi por água abaixo com a privatização do banco.

Se até hoje grande parte dos brasileiros acredita que é papel do Estado de industrializar o país e não da iniciativa privada, imagina no século XIX.

Mauá, o multiempresário

A ideia de fundar o Banco do Brasil era maior do que ter um grande banco. Ela passava por financiar três empresas que Irineu queria fundar:

  • A Companhia de Navegação do Amazonas

  • A Companhia de Iluminação a Gás

  • A construção de uma linha férrea entre o porto de Mauá e Petrópolis.

Sem o comando do banco, a criação das empresas se tornou mais difícil, mas não impossível.

Irineu fundou as três e elas começaram a dar lucro.

Inclusive, na fundação da linha férrea, ele foi condecorado com o título de Barão de Mauá.

Estrada de ferro construída por Barão de Mauá

Não demorou até que o governo mais uma vez se coçasse e achasse um absurdo um empresário ganancioso e que só pensa em lucro pudesse se sobressair tanto e fazer tanto dinheiro.

Mais uma vez o governo começa a articular, mudar leis e criar situações para dificultar a sua vida.

O governo decidiu criar uma estrada de ferro ao lado da sua. Só para atrapalhar.

A estrada do governo custou 10x mais do que a de Mauá.

E foi o contribuinte que financiou essa obra.

Só que a população aplaudia essa inciativa do governo, porque eles eram contra “empresários que só visam o lucro.”

Uma pequena interrupção no texto para um recado importante

O texto está ficando beeem extenso e eu acho que isso aqui é material para um PODCAST contando tudo nos mínimos detalhes.

Vou escrever um resumo do que ele fez de notável até aqui e caso você queira saber a a história completa, peço que deixe um comentário nesse texto pedindo que faça o podcast.

Lista de feitos notáveis até agora

  • Mauá foi um dos comerciantes mais bem sucedidos do Brasil

  • Vendeu o comércio e comprou um estaleiro e fez ele prosperar, se tornando mais rico ainda

  • Criou a primeira empresa S.A do Brasil: o Banco do Brasil, que pouco tempo depois foi estatizado e aparelhado (isso em 1853)

  • O Banco do Brasil nasceu sendo a maior empresa do Brasil na época, valendo 5x mais que o seu único concorrente

  • Criou a primeira linha férrea do Brasil, conectando o Porto de Mauá a Petrópolis, que lhe deu o título de Barão de Mauá

  • Em 1860, Mauá tinha 17 empresas localizadas em 6 países: Brasil, Uruguai, Argentina, Inglaterra, França e Estados Unidos

  • Sua fortuna era cerca de 115 mil contos de réis, enquanto o orçamento anual do Império do Brasil era de 97 mil contos de réis. Sim, isso significa que Mauá tinha patrimônio maior do que os gastos do Brasil no ano.

  • Em 1860, Vanderbuilt, o barão das ferrovias americanas era o homem mais rico do mundo com 100 milhões de dólares. A fortuna de Mauá era de 60 milhões de dólares nesse momento.

Para se ter uma noção do patrimônio de Mauá na época, ele tinha 60% do patrimônio do homem mais rico do mundo.

Hoje, isso colocaria Mauá atrás apenas de Musk, Bezos e Zuckerberg.

Na frente de Gates, Buffett, Dell e todo mundo.

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